domingo, 5 de maio de 2019

Saudações de Encerramento

Saudações de Encerramento

           Vs. 12-14 – No encerramento, Pedro menciona “Silvano” (Silas), aparentemente, ele era o portador da epístola. Ele havia sido cooperador de Paulo (At 15-18), mas desde que Paulo havia sido encarcerado, ele foi encontrado servindo com Pedro. É significativo que ele seja mencionado nesta carta, que tem muito a ver com sofrimento. Ele era alguém que certamente poderia ter empatia com esses irmãos, tendo sido espancado e preso, quando ele e Paulo estavam em Filipos (At 16:23).
Pedro reafirma seu propósito ao escrever a esses irmãos: escrevi abreviadamente, exortando e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual estais firmes”. Ele inclui saudações de sua esposa: A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos”. Era o hábito de Pedro levar consigo sua esposa em seus labores (1 Co 9:5). É digno de nota que, ao cumprir sua comissão apostólica em relação à circuncisão (Gl 2:8), Pedro é encontrado na Babilônia. É onde muitos milhares de judeus foram deportados ao cativeiro babilônico, centenas de anos antes (2 Rs 24-25). Apenas 42.000 retornaram à terra de Israel nos dias de Esdras e Neemias – o restante permaneceu na Babilônia e se estabeleceu lá. Ao buscar a bênção de seus compatriotas, ele foi lá para pregar o evangelho e pastorear aqueles que foram salvos.
Pedro também envia saudações de “Marcos” (também chamado de João Marcos – At 12:12, 13:5; Cl 4:10). Ao adicionar “Meu filho”, ele revela que João Marcos havia se convertido por meio dele. Assim, Marcos era seu filho espiritual. Paulo fala de Timóteo, Tito e Onésimo da mesma maneira (1 Tm 1:2; 2 Tm 1:2; Tt 1:4; Fm 9).

Ele prescreve a esses santos o “ósculo de amor” (ARA) e lhes dá uma palavra final de “paz”.

Conforto Para os Santos que Sofrem Perseguição

Conforto Para os Santos que Sofrem Perseguição

Vs. 9b-11 – Pedro conclui suas observações sobre o assunto do sofrimento, dando algumas palavras de conforto e encorajamento a esses santos que estavam passando pelo fogo da perseguição. Sua intenção era motivá-los a irem adiante pelo Senhor, em sua provação.
Em primeiro lugar, eles não estavam sozinhos em seu sofrimento. Ele diz: sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo” (v. 9b). Assim, eles poderiam tomar coragem no fato de que, se os outros puderam suportar esse sofrimento, eles também poderiam (1 Ts 1:6; 2 Ts 1:4; 2 Tm 2:3, 4:5, etc.).
Em segundo lugar, o Deus de toda a graça” os chamara em Cristo Jesus à Sua eterna glória” (v. 10a). Assim, eles foram “chamados” por Deus para um fim glorioso com Cristo, e não havia nada que pudesse frustrar o Seu propósito. Se mantivessem seus olhos na “eterna glória” para a qual estavam viajando, isso os motivaria a suportar as provações que encontrassem ao longo do caminho. Além disso, Pedro lembra-lhes que o nosso Deus é o “Deus de toda a graça”, e assim Ele nos fornecerá a graça necessária para continuarmos ao longo do sofrimento que enfrentamos (Fp 4:13; Tg 4:6).
Em terceiro lugar, esse tempo de sofrimento é apenas por “um pouco” comparado à glória eterna que está chegando (v. 10b). Em breve terminará. Saber disso lhes daria um propósito de coração para continuar no caminho.
Em quarto lugar, Pedro diz: Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá”. Eles também precisavam ter em mente que esses sofrimentos estavam sendo usados ​​por Deus para edificar o caráter Cristão neles. Assim, era importante verem a mão de Deus em suas provações; isso daria incentivo adicional para continuarem.

V. 11 – É adequado que Pedro terminasse com uma doxologia de louvor (acho que tem de repetir a N. do Tradutor sobre doxologia): A Ele seja a glória e o poderio pelos séculos dos séculos. Amém” (JND). Os séculos dos séculos referem-se ao estado eterno quando Satanás estará no lago de fogo (Ap 20:10) e o tempo de sofrimento dos santos terminará (1 Co 15:24-28; 2 Pe 3:12-13; Ap 21:1-8).

O Leão que Ruge

O Leão que Ruge

V. 8 – Ele prossegue mostrando que se nos recusarmos a nos humilhar sob a mão de Deus e não lançarmos nossos problemas e provações sobre o Senhor, ficaremos vulneráveis ​​aos ataques do leão que ruge – o diabo. Ele diz: Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”. Assim, Pedro queria que estivéssemos conscientes dos movimentos desse inimigo. A vigilância aqui não é a de esperar o Senhor vir (o que certamente devemos fazer – Lc 12:37; Tt 2:13, etc.), mas a de observar os ataques do inimigo. Não devemos nos ocupar com o inimigo – nossa ocupação é com Cristo –, mas devemos estar alertas e precavidos em relação às táticas do inimigo (2 Co 2:11). As palavras “humilhai-vos” (v. 6), “sede sóbrios” (v. 8), “vigiai” (v. 8) e “resisti” (v. 9) estão todas no tempo aoristo no grego, que é um estado de haver feito algo definitivamente, conforme nota de rodapé da tradução J. N. Darby. Assim, a prontidão em relação ao nosso adversário é para ser um estado permanente; não é algo que retomamos no momento em que Satanás ataca – assim poderia ser tarde demais!
Pedro deixa claro que o objetivo de Satanás é “devorar” (ARA) os Cristãos. Podemos perguntar: “Em que sentido o diabo devora um Cristão?” Ele certamente não pode tirar de nós a salvação da nossa alma; ela está eternamente segura pelo que o Senhor Jesus consumou na cruz (Jo 10:28-29). Mas Satanás pode destruir nossas vidas no que diz respeito ao nosso testemunho. Ele pode aterrorizar o crente ao ponto dele desistir do caminho e todos os que virem isso zombarão do Cristianismo e do Senhor (Lc 14:29-30). A principal maneira de Satanás aterrorizar os santos é por meio da perseguição. Ele trabalha “bramando como um leão” para persegui-los, mas essa não é a única maneira em que ele age.  Como Pedro mostra aqui, ele leva homens orgulhosos e também se lança sobre pessoas desencorajadas.
V. 9a – Pedro diz: Ao qual resisti firmes na fé”. Devemos resistir ao diabo, mas não na energia da carne. Não somos chamados a lutar contra o diabo, nem devemos dialogar com ele. Nós “resistimos” ao diabo, permanecendo firmes em fé, nas nossas convicções que são fundadas na Palavra de Deus. Quando resistimos firmes sob esses ataques especiais do diabo, ele “fugirá” de nós! (Tg 4:7).

Satanás treme quando vê
O mais fraco dos santos ajoelhado!


Devemos encomendar nossas vidas a Deus em oração e lembrar que Ele está acima de todas as circunstâncias, e se o diabo incitar homens para nos perseguir, eles só poderão nos fazer o que Deus permitir, em Sua poderosa providência (Lm 3:37).  E se formos chamados a morrer como mártires para Cristo, devemos seguir o exemplo dos santos que já se foram, que foram “fiéis até a morte” (Ap 2:10; 12:11). Recusando-nos a renegar a fé, “venceremos” este adversário e obteremos a “vitória” para o Senhor, porque todas as suas tentativas malignas de nos fazer desistir no caminho da fé falharam (Ap 15:2).

O Rebanho

O Rebanho

Vs. 5-11 – Pedro se dirige ao rebanho. Ele os exorta quanto à necessidade de humildade e expressa dependência de Deus. Ele diz: “Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos pois debaixo da potente mão de Deus, para que a Seu tempo vos exalte; Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”. Se o rebanho deve prosperar espiritualmente, deve haver uma condição feliz de paz e amor existindo entre os santos. Pedro nos diz que isso é alcançado por adotar “humildade” uns para com os outros. Todos temos um papel a desempenhar contribuindo para essa feliz condição que deve estar entre o povo de Deus estando “revestido de humildade”.
Os irmãos “mancebos” são especificamente chamados a serem “sujeitos” aos seus irmãos mais velhos. A tradução das versões King James e a Almeida Revista e Corrigida implica que os mais velhos também devem estar sujeitos aos mais novos (“sede todos sujeitos uns aos outros”), mas isso seria impróprio. Uma melhor tradução da passagem mostra que Pedro está exortando “todos” os santos (o que incluiria os irmãos mais velhos) a “revestirem-se de humildade”. Toda a companhia Cristã deve ser marcada por esta grande característica moral que foi tão perfeitamente mostrada no Senhor Jesus. Ele é o único Homem que sempre teve o direito de Se exaltar – mas a Escritura diz: “E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo” (Fp 2:8). Alguns parecem pensar que a humildade é pensar mal de si mesmo e sair por aí se depreciando, mas na verdade é não estar pensando em nós mesmos de forma alguma! Uma pessoa verdadeiramente humilde tem a si mesma fora de cena – seja em importância própria ou em auto piedade.
Visto que o orgulho é odioso para Deus, um homem orgulhoso certamente encontrará o julgamento governamental de Deus. Pedro diz que Deus resiste aos soberbos” e resiste àqueles que têm planos de se sobressair entre seus irmãos. Para nos protegermos contra esse mal em nossos corações, Pedro diz: Humilhai-vos pois debaixo da potente mão de Deus” (v. 6). Isso é algo que todos devemos fazer, e se não o fizermos, Deus fará isso ordenando uma circunstância humilhante em nossas vidas. Pedro nos assegura que aqueles que se humilharem serão exaltados “a Seu tempo”, quando o Senhor vier e estabelecer Seu reino. Se o sofrimento deve ser recompensado por glória naquele dia vindouro (v. 4), a humildade será naquele dia recompensada pela exaltação (v. 6).
Além de revestir-nos em humildade, Pedro diz que também precisamos lançar sobre Ele toda a vossa ansiedade” (v. 7). O caminho da fé tem seus altos e baixos, e certamente nos encontraremos com algo desencorajador ao longo do caminho. Mas como as misericórdias de Deus são novas a cada manhã (Lm 3:22-23), todos os nossos problemas e provações podem ser levados ao Senhor em expressa dependência, e Ele nos ajudará por meio deles. O salmista disse: Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá” (Sl 55:22).
A provação a que Pedro está especialmente se referindo aqui é a perseguição. Os santos naqueles dias estavam passando pelo fogo da aflição a esse respeito e precisavam de conforto e consolação. Essas provações não foram enviadas por Deus, mas foram, no entanto, permitidas por Ele. Pedro diz que eles deveriam valer-se da provisão que Deus lhes havia feito, lançando suas cargas sobre o Senhor. Enquanto aqui o contexto é perseguição, sabemos que o desânimo pode vir de qualquer parte. Quando isso acontece, a solução é a mesma – devemos colocá-lo sobre o Senhor e deixar que Ele carregue o peso por nós.

Assim, Pedro tocou em dois perigos opostos dos quais devemos nos resguardar – de estarmos inchados de orgulho ou de sermos lançados em desânimo. Essas coisas devem ser enfrentadas nos humilhando sob a potente mão de Deus (v. 6) e lançando todos os nossos cuidados sobre Ele (v. 7).

O Trabalho dos Anciãos

O Trabalho dos Anciãos

Vs. 2-3 — Pedro menciona três coisas que os anciãos[1] devem fazer:

PASTOREAR O REBANHO (v. 2a) – A primeira coisa era Apascentar o rebanho de Deus”. Ao exortar os anciãos (Pedro se inclui como um deles), é claro que ele nunca esqueceu o que o Senhor lhe disse: “Apascenta as Minhas ovelhas” (Jo 21:16). Sabendo que havia uma grande necessidade desse trabalho entre os santos, ele exortou esses anciãos a se empenharem nesse trabalho de amor. É triste dizer que isso não foi seguido na história da Igreja. A ruína do testemunho Cristão que existe hoje pode ser atribuída em grande parte aos anciãos que se desviaram e não fizeram o seu trabalho com fidelidade (At 20:29-30; 3 Jo 9-10; Ap 2-3 – “o anjo”). Podemos afirmar que a necessidade de pastorear o povo de Deus é hoje maior do que nunca. Que o Senhor levante muitos desses pastores.
A versão King James esta frase: “Alimente o rebanho de Deus”, mas “alimentar” é muito restritivo. Apascentar é mais do que alimentar – dando aos santos alimento espiritual (ensinando). Isso inclui alimentá-los, mas também envolve guiá-los, aconselhá-los, visitá-los e ajudá-los em seus problemas e necessidades temporais. Tendo adquirido experiência no caminho da fé, os anciãos devem compartilhar sua sabedoria aos santos com o objetivo de ajudá-los a seguir juntos espiritualmente, e, em paz. Este trabalho requer discernir “o estado” do rebanho, de modo a ministrar adequadamente às suas necessidades (Pv 27:23).

EXERCER SUPERVISÃO PARA O BEM DO REBANHO (v. 2b) – A segunda coisa é tendo cuidado dele”. Isso se refere principalmente às responsabilidades administrativas em uma assembleia local. Apascentar o rebanho pode ser feito em qualquer lugar onde os santos são encontrados, mas a supervisão administrativa é puramente um trabalho local. Isto é, deve ser realizado na assembleia na localidade onde os anciãos vivem. Eles devem assumir a liderança em assuntos espirituais envolvendo recepção, disciplina, etc.
Este é um trabalho que os anciãos devem fazer “voluntariamente”, não por “força”. Portanto, não é para ser realizado no sentido de uma obrigação, mas de algo feito para o Senhor, e motivado pelo amor e compaixão pelos santos. Também não deve ser feito por “torpe ganância” financeira, embora eles possam às vezes receber ajuda monetária da assembleia (1 Tm 5:17-18). Assim, eles deviam alimentar o rebanho, não tosquiá-lo!

SER EXEMPLO PARA O REBANHO (v. 3) – A terceira coisa é que os anciãos devem servir de exemplo [modelo] para o rebanho” em caráter moral. Os santos precisam aprender a verdade, o que Deus faz por meio de mestres dotados (1 Co 12:28; Ef 4:11), e se necessário, por meio dos anciãos (Tt 1:9). Mas aos santos também é preciso mostrar-lhes a verdade na prática. Os anciãos, portanto, devem assumir a liderança e demonstrar a conduta Cristã adequada perante os santos e, assim, dar-lhes um exemplo a seguir. O apóstolo Paulo disse: “jamais deixando de vos anunciar... Tenho-vos mostrado... (At 20:20, 35).
Pedro adverte os anciãos do perigo de “dominar” o rebanho e tratá-lo como sua “herança”. A nota de rodapé da Tradução J. N. Darby diz: “Vendo os santos como algo que pertence a você… o rebanho não era para ser tratado como 'possessão’ dos anciãos”. Os anciãos devem sempre ter em mente que é “o rebanho de Deus que eles estão pastoreando. O rebanho é de Deus; não deles. Enquanto os clérigos (os chamados pastores e ministros da Cristandade) frequentemente falam de uma congregação de Cristãos como “seu” rebanho, a Escritura não diz nada sobre um sub-pastor tendo tal posição. Não há nenhuma sugestão aqui, nem em qualquer outro lugar na Escritura, de uma ordem clerical governando arbitrariamente sobre os leigos. O ponto simples de Pedro aqui é que os anciãos não devem governar os santos de maneira dominadora. Os anciãos devem ser respeitados, mas não devem exigir esse respeito; eles devem ganhá-lo.
Na Escritura, quando o trabalho dos anciãos está em vista, eles são sempre mencionados no plural (At 20:28; 1 Tm 5:17-18, etc.). (Quando suas qualificações morais estão em vista, elas estão no singular – 1 Tm 3:1-8; Tt 1:6-9, etc.) Isso ocorre porque quando há vários homens envolvidos no trabalho em uma localidade, eles podem ser verificadores e ponderadores uns dos outros. Assim, há uma maior imunidade contra um homem que se levanta e leva os santos atrás de si na direção errada. Um único homem presidindo sobre os santos não é bíblico e é potencialmente perigoso. Como mencionado, ele poderia se deixar levar por sua importância própria e causar danos ao rebanho. Este foi o caso de Diótrefes (3 Jo 9-10). Além de ser cheio de compaixão e sacrifício próprio – como visto no bom Pastor (Mt 9:36; Mc 6:34; At 20:35) – um pastor deve ser humilde (v. 5).
V. 4 – Para o encorajamento de todos que realizam este trabalho, que às vezes pode ser um trabalho ingrato, Pedro lembra-lhes que o desempenho fiel deste serviço terá a sua feliz recompensa. Ele diz: “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória”. O pastorear, feito à maneira de Deus, não levará ninguém ao destaque hoje em dia – ele é em geral um trabalho silencioso feito entre os santos em um nível pessoal. Mas a sua recompensa num dia vindouro certamente será algo público. A afirmação de Pedro aqui parece estar dizendo que as recompensas (coroas) serão recebidas pelos santos na Aparição de Cristo, mas a Escritura ensina claramente que as recompensas pelo serviço fiel serão dadas no tribunal de Cristo, que ocorrerá após os santos serem levados para o céu no Arrebatamento (Mt 25:19-23; Lc 19:15-19; 1 Co 4:5; Ap 4:4 – os santos têm suas “coroas” antes do início das aflições da tribulação). Pedro certamente não estaria contradizendo isso; portanto, ele deve estar se referindo à manifestação pública de nossas recompensas em “glória”, que ocorre na Aparição de Cristo e durante Seu reinado no reino milenar, naquilo que é chamado de “o dia de Cristo” (Fp 1:6, 10; 2:16, etc.).



[1] N. do T.: O Novo Testamento usa três palavras gregas para identificar a pessoa que faz essa obra de cuidado: ancião (presbuteroi), bispo (episkopoi) e pastores ou guias (hegoumenos). Não são três posições diferentes na assembleia, mas sim três aspectos de um mesmo trabalho que esses homens fazem.

Os Anciãos

Os Anciãos

V. 1 – Uma coisa que se destaca neste trabalho de pastorear o rebanho de Deus é que são os “presbíteros [anciãos – AIBB] que são ordenados a fazê-lo. A palavra “ancião” implica experiência e maturidade, que são tão necessárias para este trabalho. Quando o conselho e o encorajamento vêm de alguém que experimentou as vicissitudes e provações da vida Cristã, ele tem peso moral com os santos e, como resultado,  estarão mais inclinados a recebê-lo. Desnecessário dizer que este trabalho não é para um “neófito”. Paulo adverte dos tais sendo levados pela importância própria e sendo “ensoberbecido” com orgulho e caindo “na condenação do diabo” (1 Tm 3:6; Pv 16:18, 29:23; At 15:6). Um neófito é um novo convertido, mas isso talvez possa incluir alguém que não amadureceu na fé como deveria, e, consequentemente, é um “bebê” (Ec 10:16; 1 Co 3:1 – JND; Ef. 4:13-14 – JND; Hb 5:12-14 – JND).
Antes de exortar os anciãos quanto às especificidades deste trabalho, Pedro menciona duas coisas que todo sub-pastor deve manter diante de si para que ele seja eficiente – “os sofrimentos de Cristo” (ARA) e “a glória que se há de revelar”. Pedro já referiu-se a estas duas coisas algumas vezes na epístola, mas por diferentes razões. Aqui, está em conexão com a manutenção dos anciãos em seu trabalho.
“Os sofrimentos de Cristo” aqui não são os sofrimentos expiatórios do Senhor, mas sim Seus sofrimentos de martírio, os quais todos compartilhamos em certa medida, se servimos a Deus fielmente. Isto é colocado diante dos anciãos como um modelo, porque, assim como quando o Senhor pastoreou o rebanho de Deus em Seus dias e não foi apreciado, sendo rejeitado por todo o bem que Ele fez (Zc 11:4-14; Jo 10:1-18), eles também encontrariam oposição similar. Os sofrimentos do Senhor são o exemplo perfeito de como os anciãos devem lidar com os equívocos e males que podem encontrar ao cuidar do rebanho. Aqueles que fazem este trabalho precisam estar preparados para isso, porque Satanás faz daqueles que pastoreiam o povo de Deus, um objeto especial de seus ataques. No caso do Senhor, Satanás veio contra Ele no jardim do Getsêmani em um ataque especial (Jo 14:30; “estando em conflito” Lc 22:44 – JND, 53). Esse foi um esforço máximo para afastá-Lo de fazer a vontade de Deus em ir para a cruz. Quando os judeus O prenderam e O entregaram às autoridades romanas, Ele Se submeteu aos seus maus-tratos:As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas faces aos que Me arrancam os cabelos” (Is 50:5-7). Ele não Se defenderia, mas deixaria que Deus O justificasse em Seu devido tempo – o que aconteceu em Sua ressurreição e ascensão (Is 50:8). Quando O crucificaram, Ele “suportou a cruz” pacientemente e desprezou a vergonha (Hb 12:2). Tal foi o exemplo perfeito do “bom Pastor” que deu Sua vida pelas ovelhas (Jo 10:11). Ele é o Modelo para todos os que pastoreiam o povo de Deus.
“A glória que se há de revelar” refere-se ao tempo em que Cristo vai Ser provado inocente publicamente em Sua Aparição. Assim, o sub-pastor que faz o seu trabalho com fidelidade, embora seja frequentemente pouco apreciado, naquele dia será amplamente compensado em “glória” (v. 4). O servo, portanto, deve manter seus olhos naquilo que está à frente; isso o sustentará e dará motivação para continuar em serviço fiel.

O papel de um ancião/bispo não é algo para o que os homens se nomeiam, nem é um ofício para o qual a assembleia os designa. Pelo contrário, eles são levantados pelo Espírito Santo para fazer este trabalho para o Senhor (At 20:28). Esses homens serão conhecidos por suas qualificações morais e pelo trabalho que fazem. A assembleia deve “reconhecê-los” (1 Co 16:15; 1 Ts 5:12), “estimá-los” altamente (1 Ts 5:13), “honrá-los” (1 Tm 5:17), “lembrar-se deles” (Hb 13:7a), “imitar” sua fé (Hb 13:7b), “obedecê-los” (Hb 13:17a), “sujeitar-se” a eles (Hb 13:17b) e “saudá-los” (Hb 13:24). Mas em nenhum lugar na Escritura é dito à assembleia para escolhê-los e ordená-los! Isto é simplesmente porque a assembleia não tem autoridade de Deus para fazê-lo. Ainda assim, apesar desse fato, as igrejas Cristãs em toda parte escolhem e nomeiam seus anciãos! Tal é a confusão que existe nas ruínas do testemunho Cristão. Quando os anciãos eram escolhidos e ordenados na Escritura, eram sempre escolhidos “para” uma assembleia por um apóstolo (At 14:23 – Tradução W. Kelly). Ou por alguém delegado por um apóstolo (Tt 1:5). Aqui está a sabedoria de Deus; isso impede que a assembleia escolha líderes que favoreçam as inclinações do povo e, assim, tenha controle sobre os que estão na supervisão.

Um Cenário Pastoral

Um Cenário Pastoral

O contexto em que essas exortações finais são dadas é o do “rebanho” (v. 2), “o sumo Pastor” (v. 4), Seus sub pastores“os presbíteros” (v. 1), e um predador maligno – que “brama como um leão” (v. 8). Claramente, as palavras de conselho e encorajamento de Pedro nesta passagem são proferidas em um cenário pastoral.

Suas exortações nos versículos iniciais do capítulo são dirigidas particularmente aos “presbíteros” que têm o peso da responsabilidade de pastorear o povo de Deus (vs. 1-4), mas na segunda metade do capítulo suas exortações se ampliam para “todos”, que são os santos em geral (vs. 5-14).

SOFRIMENTOS PELA OPOSIÇÃO DO DIABO Capítulo 5:1-14

SOFRIMENTOS PELA OPOSIÇÃO DO DIABO
Capítulo 5:1-14


Pedro conclui suas exortações na epístola tocando em um último aspecto do sofrimento que os santos enfrentam em seu caminho – sofrendo ataques especiais do diabo. Satanás está sempre a postos contra o progresso espiritual e bênção do povo de Deus; no entanto, há certas ocasiões em que ele faz um ataque especial para atormentá-los e oprimi-los e, em última análise, para tentar fazê-los desistir do caminho de fé. O apóstolo Paulo fala dessas ocasiões como um “dia mau” que podem vir sobre nós (Ef 6:13). Esses ataques não são o resultado de andarmos descuidadamente na carne, mas sim de seguirmos fielmente para Senhor. É, portanto, o Cristianismo normal.

O Governo de Deus

O Governo de Deus

             Vs. 17-19 – Para que ninguém pense levianamente sobre o filho de Deus praticando o mal, Pedro introduz novamente o assunto do governo de Deus, como um aviso para os Cristãos descuidados. Ele diz: Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” Deus certamente não quer ver seus filhos fazendo algo errado. Mas se formos obstinados ou descuidados em relação a nosso caminhar, Ele tem Seus caminhos em Seu governo para chamar nossa atenção – e isso às vezes pode ser doloroso. Como nosso Pai amoroso que Se preocupa com o nosso desenvolvimento moral e espiritual (Hb 12:5-11), Ele não passa por cima dessas coisas, mas trabalha por meio de Suas disciplinas e repreensões para nos ensinar a andar em santidade e em dependência d’Ele. (Sl 119:67, 71). Ele pode usar qualquer tipo de aflição e provação na disciplina de Seus filhos – até as injustas perseguições do mundo.
Pedro explica que o “julgamento” governamental de Deus sempre começa com aqueles que tiveram mais luz (Ez 9:6). O princípio é este: quanto maiores os privilégios que foram concedidos, maior a responsabilidade (Lc 12:47-48). Isso é verdade tanto em nível pessoal quanto em nível coletivo. A igreja professa (Cristandade), que é “a casa de Deus” hoje, definitivamente teve mais luz de Deus entre todas as pessoas na Terra. Portanto, é muito mais responsável do que o mundo pagão que não teve a mesma exposição ao evangelho.
Ele então levanta a questão sobre qual será “o fim” daqueles que que são desobedientes ao evangelho de Deus”. Ele diz: “E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador?” Seu ponto aqui é que, se Deus não poupa aqueles em Sua casa que estão declaradamente em um relacionamento com Ele, quando fazem algo errado, quanto menos poupará aqueles fora de Sua casa que não têm relacionamento com Ele? Ele não apenas os julga governamentalmente agora, mas também serão julgados eternamente num dia vindouro – um pensamento solene, de fato!
O aspecto da salvação de que Pedro fala aqui é aquele que é afetado em nosso caminho à medida que nos movemos neste mundo, e isso resultará em nossa plena salvação no final da jornada quando o Senhor vier (cap. 1:5). As dificuldades a que ele se refere são os perigos e provações espirituais relacionados com a confissão de Cristo, e também, as correções que nosso Pai pode trazer sobre nós se e quando andamos em caminhos de injustiça. A nota de rodapé da Tradução do J. N. Darby declara: “Salvos aqui na Terra, como por meio das provações e juízos que assediam especialmente os Cristãos judeus”.

Vs. 19 – Pedro conclui o assunto oferecendo uma palavra de encorajamento a todos os que sofrem desse modo. Se eles forem encontrados sofrendo “segundo a vontade de Deus” – isto é, por sua confissão de Cristo – eles devem se encomendar à Deus. Nota: eles não são instruídos a apelar para as autoridades civis por proteção (como fizeram os reformadores quando eles foram perseguidos pelos católicos), mas para encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem”. Ele é um “fiel Criador” e éo Salvador [Preservador – JND] de todos os homens, principalmente dos fiéis” (1 Tm 4:10). Podemos sempre nos voltar para Ele em nosso sofrimento e lá encontrar um consolo (Sl 91:1-2). É somente o poder de Deus que pode nos sustentar quando estamos sob essas provações (Sl 18:29).

Dois Aspectos do Gozo

Dois Aspectos do Gozo

            Vs. 13 – Para encorajá-los a confessarem a Cristo corajosamente, Pedro fala de dois aspectos do gozo que eles teriam. Eles teriam um gozo futura quando da revelação da Sua glória” no Sua Aparição. Naquele tempo, Cristo virá com Seus santos celestiais (1 Ts 3:13; Jd 14) e sua recompensa por se identificarem com Ele no tempo de Sua rejeição será mostrada diante do mundo. Eles se exultarão cheios de júbilo” (TB). Assim, cada pequena porção de sofrimento pelo nome de Cristo nos dias de hoje será compensada naquele dia.
Vs. 14 – Eles também teriam um gozo presente no meio de sua provação. Pedro acrescenta: Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois”. Isto porque Cristo é “glorificado” por meio da nossa confissão d’Ele e há um gozo especial em confessar a Cristo, o qual é conhecido apenas por aqueles que o fazem. Paulo e Silas são um exemplo aqui. Quando eles estavam em Filipos, eles pregaram a Cristo e, consequentemente, foram espancados e lançados na prisão – ainda assim cantaram louvores a Deus na cadeia! (At 16:22-25)
Em tais situações, o “Espírito” de Deus repousa com aprovação “sobre” o crente e presta um testemunho poderoso para todos ao redor. Isso é algo que o próprio crente pode nem mesmo estar consciente. Compare com Êxodo 34:29 – Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia”. Estêvão é o exemplo do Novo Testamento (At 6:15). J. N. Darby apropriadamente disse: “Nunca deixe de confessar a Cristo; isso fará com que seu rosto brilhe”. Esta passagem mostra que o Espírito de Deus não apenas habita nos crentes (Jo 14:17; At 2:4; 2 Tm 1:14; Tg 4:5), mas Ele também repousa sobre os crentes.
Não é aconselhável, mas esse tipo de sofrimento pode ser evitado ao não confessar a Cristo diante dos homens – mas nosso poder no testemunho e nosso gozo se perderão. Vemos disso que o fogo da perseguição não destrói a Igreja de Deus. De fato, quanto mais a Igreja é chamada a sofrer por Cristo, com mais força ela cresce espiritualmente! (2 Ts 1:3-4) Compare Êxodo 1:12. É triste dizer que é a contenda interna, não perseguição, que destrói o testemunho da Igreja.
Deus usa a pressão das provações para nos fazer crescer espiritualmente (Sl 4:1 – JND). Tem sido dito que os santos progridem espiritualmente em três provações principais: 
  • Pobreza.
  • Perseguição.
  • Doença.

Vs. 15-16 – Pedro diz que, por outro lado, se sofrermos como um “malfeitor”, há motivo para nos envergonharmos; desonramos o nome de Cristo. Mas se sofrermos “como Cristãos” (isto é, por sermos Cristãos), não deveríamos nos envergonhar, pois é uma honra sofrer por Ele. Pode parecer estranho que Pedro falasse de um “intrometido” ao lado de um “homicida”, etc. Mas isso apenas mostra que um Cristão pode cometer qualquer pecado do catálogo, se sair da comunhão com o Senhor, porque ele ainda tem em si a natureza caída pecaminosa; não melhora por nascer de novo (Jo 3:6).

SOFRIMENTO PELO NOME DE CRISTO Capítulo 4:12-19

SOFRIMENTO PELO NOME DE CRISTO
Capítulo 4:12-19

Pedro passa a falar de outro aspecto de sofrimentos que os santos fiéis encontrarão – sofrimentos pelo nome de Cristo. Ele diz: “Amados, não estranheis a ardente provação que há no meio de vós, e que vem para vos pôr à prova, como se vos acontecesse coisa estranha, mas visto que sois participantes dos sofrimentos de Cristo, regozijai-vos, para que também na revelação da Sua glória exulteis cheios de júbilo. Se sois vituperados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois; porque o Espírito da glória, e de Deus repousa sobre vós” (TB). Pedro já falou do sofrimento por causa da justiça (cap. 3:14-16), mas isso do que fala agora é de um caráter superior de sofrimento, porque envolve confessar o nome de Cristo. J. N. Darby disse: “Aquilo [o sofrimento] que é pelo nome d’Ele é um tipo superior, do que pela justiça” (Collected Writings, vol. 28, pág. 186).
Assim, é possível sofrer por fazer o que é certo, sem relacionar-se publicamente o motivo a Cristo. Mas no momento em que confessamos a Cristo e O trazemos para o cenário, como sendo a razão pela qual fazemos o que fazemos, então a perseguição aumenta. Podemos dizer a alguém que não queremos fazer algo porque não seria correto e, como resultado, sofremos certa medida de reprovação por isso. Mas quando dizemos que não queremos fazê-lo porque somos crentes no Senhor Jesus Cristo e não queremos desagradá-Lo, então a perseguição e a reprovação se intensificam. Este é o aspecto do sofrimento ao qual Pedro se refere nesta passagem.

V. 12 – Ao dizer a esses queridos crentes que não deveriam pensar que a provação de aflição que estavam experimentando era uma “coisa estranha”, mostra que a aflição pelo “nome de Cristo” é normal para o Cristianismo. Assim, “a ardente prova” da perseguição não deve ser considerada como uma surpresa. É bem simples; se o crente confessar a Cristo, que é rejeitado, ele também será rejeitado. Isso é algo que deve ser esperado porque o mundo pelo qual passamos é naturalmente oposto a Cristo, e qualquer testemunho de Cristo não pode ser tolerado (Jo 15:20). O mundo pode tolerar usuários de drogas, imoralidade, religião falsa, etc., mas não pode tolerar Cristãos que confessam a Cristo. Quanto mais fiel for o testemunho de Cristo, mais o crente sofrerá. Eles foram, portanto, instruídos a “regojizarem-se” porque sofrendo desta maneira, eles seriam “participantes” do martírio das “aflições de Cristo” (v. 13) – e isso é um privilégio (Mc 10:39; At 5:41; Fp 1:29).

sábado, 4 de maio de 2019

Despenseiros

Despenseiros

Como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”, devemos usar para a glória do Senhor tudo o que Ele tem colocado em nossas mãos – tanto material como espiritualmente. Se alguma quantia de riqueza material chegou às nossas mãos, devemos usá-la com a percepção de que não podemos guardar essas coisas para sempre e, portanto, elas devem ser colocadas no altar de Deus (por assim dizer) e usadas para promover Seu reino. Ao fazer isso, estamos “entesourando” aquilo que pode ser levado para o próximo mundo no “futuro” (1 Tm 6:17-19). Da mesma forma, com as coisas espirituais; devemos “negociar” com a verdade que adquirimos ensinando-a aos outros e fazendo-os entendê-la (Lc 19:13). Assim, nós os ajudamos espiritualmente no caminho da fé. A administração Cristã, portanto, é dupla. Envolve:
  • Lidar com coisas materiais para o Senhor (Lc 16:9-12).
  • Lidar com as coisas espirituais para o Senhor (1 Co 4:1).

O ponto proeminente de Pedro nesta passagem (v. 10-11) é que a Igreja precisa desesperadamente do ministério da Palavra no sentido de ensino e exortação espiritual. Aqueles que têm um dom para ajudar os santos desta maneira devem ser exercitados sobre o uso do que resta de seu tempo neste importante serviço. Pedro acrescenta que o objetivo de todo esse ministério da Palavra é para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo”. Isso resultará em glória e poder” sendo dados a Ele “para todo o sempre [pelos séculos dos séculos – ARA], que é o estado eterno. Isso mostra que os dons espirituais não são para a glorificação de nós mesmos, mas para a glorificação de Cristo.

MINISTRAR A PALAVRA (vs. 10-11)

MINISTRAR A PALAVRA (vs. 10-11) 

              Pedro então aborda o assunto de ministrar a Palavra entre os santos. Esta é outra coisa importante que deveríamos estar fazendo com o tempo que nos resta na Terra. Ele diz: “cada um de vós, segundo o dom que recebeu, comunicando-o [ministrando-o – JND] uns aos outros, como bons despenseiros das várias graças de Deus. Se alguém fala, fale como oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre como da força [habilidade – JND] que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a Quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (TB). A expressão “cada um” indica que a cada Cristão foi dado um dom espiritual para exercer (Mt 25:15; 1 Co 12:7; Ef 4:7) e, portanto, todos temos algo a fazer para Deus em Seu reino (Mc 13:34). Não há zangões na colmeia de Deus! Os tipos de dons que Pedro está focando aqui são aqueles que têm a ver com ministrar a Palavra – seja na pregação, ou ensino, ou na exortação prática (Rm 12:6-8a).
Pedro distingue “dom” e “habilidade”. A habilidade tem a ver com os poderes naturais de intelecto e personalidade de uma pessoa que são formados nela desde o nascimento; ao passo que um dom, no sentido em que é usado na Escritura, é algo espiritual dado a uma pessoa quando ela crê no evangelho e recebe o Espírito Santo. Aprendemos de Mateus 25:15 que quando o Senhor dá a um crente um dom espiritual, ele corresponde à capacidade natural da pessoa. O homem deu “talentos” aos seus servos (que correspondem a esses dons espirituais) “a cada um segundo a sua própria capacidade” (ARA). Vemos a sabedoria de Deus nisso. O Senhor não dá a uma pessoa um dom espiritual e o chama para um trabalho específico sem que essa pessoa tenha alguma habilidade natural para isso. Sua habilidade natural complementará seu dom espiritual “como uma mão se encaixa em uma luva”. Por exemplo, para uma pessoa com uma personalidade extrovertida poderia ser dado receber o dom de um evangelista, porque esse dom requer que a pessoa seja capaz de alcançar as pessoas e falar-lhes livremente, o que seria difícil para uma pessoa naturalmente reservada. Ou, uma pessoa com poderes intelectuais naturalmente aguçados poderia receber o dom de ensinar, o que requer uma mente organizada.
Comentando Mateus 25:15, W. Kelly disse: “Há duas coisas no servo – ambas de importância: Ele lhes deu dons, mas foi de acordo com suas várias habilidades. O Senhor não chama alguém para um serviço especial, sem que tenha a habilidade para a responsabilidade que lhe foi confiada. O servo deve ter certas qualificações naturais e adquiridas, além do poder do Espírito de Deus... É claro que há certas qualidades no servo, independentemente do dom que o Senhor coloca nele. Seus poderes naturais são o vaso que contém o dom e onde o dom deve ser exercido”. Lectures on the Gospel of Matthew, pág. 472).
Nota: não há uma sugestão aqui, nem em qualquer outro lugar na Escritura, de uma pessoa que tenha um dom para ministrar a Palavra, sendo treinada e ordenada em um seminário antes de exercer seu dom. A Bíblia ensina que se uma pessoa tem certo dom, a posse dele em si é a garantia de Deus para usá-lo. Pedro ensina isso nos versículos 10-11. Ele diz: Cada um administre aos outros o dom como o recebeu” (v. 10). Ele não diz: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu e seja treinado e ordenado por um seminário, e então ministre”. E novamente, ele diz: se alguém administrar, administre segundo o poder [habilidade] que Deus dá” (v. 11). Ele não diz: “Deixe-o ir à escola obter um certificado, e depois deixe-o falar na assembleia”. O apóstolo Paulo confirma isso: De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar haja dedicação ao ensino; Ou o que exorta, use esse dom em exortar” (Rm 12:6-8). Veja também 1 Coríntios 14:26. O que é requerido em ministrar a Palavra é falar segundo as palavras de Deus”. Isto é ministrar com um senso consciente de que estamos falando em nome de Deus, como Seus porta-vozes e, portanto, isso deve ser feito com precisão e reverência para representá-Lo apropriadamente.

Uma ideia equivocada em relação a dons que é comum na Cristandade hoje em dia é a ideia de que a capacidade natural de uma pessoa é o seu dom espiritual. Pessoas com talentos naturais (nos esportes, ou música, etc.) são encorajadas a perseguir essas coisas e a fazer delas sua carreira na vida, porque é seu dom, com que devem glorificar a Deus. Os chamados “cultos de adoração” são organizados para demonstrar o desempenho desses talentos naturais. No entanto, isso tende a promover a glória humana e a busca do louvor aos homens, em vez de trazer glória e louvor a Deus. Muitas vezes, os chamados “cultos da igreja” são reduzidos a não muito mais que um show de talentos. Tal atividade faz da Igreja uma instituição mundana. Na Escritura, os dons espirituais são para promover as coisas espirituais que ajudam os santos na “santíssima fé” (Judas 20). J. N. Darby disse: “É inteiramente falso o princípio que dons naturais são uma razão para usá-los. Posso ter surpreendente força ou velocidade para correr; com uma eu derrubo um homem e com a outra eu ganho um prêmio. Música pode ser a coisa mais refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu creio ser da mais alta importância. Os Cristãos perderam sua influência moral admitindo a natureza e o mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse você não pode misturar carne e Espírito” (Letters, vol. 3, pág. 476).

SER HOSPITALEIRO (v. 9)

SER HOSPITALEIRO (v. 9)

        Para promover o amor e a comunhão dentro da comunidade Cristã, deveríamos ter nossos lares abertos aos santos, quando surge oportunidade (Pv 9:4-5; 3 Jo 5-7). Assim, Pedro diz: Sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações”. A hospitalidade é exemplificada em Abraão e Sara (Gn 18:1-7). Ele e sua esposa aproveitaram a oportunidade para praticar a “hospitalidade” e, no caso deles, não o sabendo, hospedaram anjos!” (Hb 13:2) É realmente triste quando os santos de uma determinada localidade não conhecem as casas uns dos outros. “Murmurações” é fazer esse serviço reclamando (Lc 10:40).

TER ARDENTE AMOR UNS PARA COM OS OUTROS (v. 8)

TER ARDENTE AMOR UNS PARA COM OS OUTROS (v. 8)

            Em contraste com a frieza do mundo, o círculo Cristão deve ser marcado pelo calor do amor genuíno uns pelos outros. Pedro diz: Mas, sobretudo, tende ardente caridade [amor] uns para com os outros; porque a caridade [amor] cobrirá a multidão de pecados”. Ao dizer: “sobretudo...”, ele quis dizer que devemos dar prioridade a isto. Esta exortação mostra que todos os crentes têm a responsabilidade de contribuir para esta feliz condição, que deve prevalecer na companhia Cristã, amando-se uns aos outros fervorosamente. O amor cobre uma “multidão de pecados”. Isso não significa que devemos proteger o mal na assembleia e evitar agirmos com responsabilidade em casos de disciplina, mas que as falhas e fracassos dos Cristãos não devem ser amplamente alardeados​. O amor não anuncia os pecados de companheiros crentes, e especialmente, não diante do mundo (Pv 10:12, 19:11; Tg 5:20); isto somente dará aos inimigos de Cristo a chance de “atirar uma pedra” no testemunho Cristão (Veja 2 Samuel 1:20).

VIGIAR (v. 7)

VIGIAR (v. 7)

               Ele também diz: vigiai em oração”. Como somos peregrinos passando pela terra de um inimigo, precisamos estar vigilantes e atentos o tempo todo. (Veja o capítulo 5:8.) Há muitos perigos no caminho e um inimigo sempre presente que tem propósito de nos fazer tropeçar. “Orações” são encorajadas porque nos trazem para a presença de Deus onde há segurança (Dt 33:12; Mt 26:41).
que é material neste mundo será queimado um dia (2 Pe 3:7), e somente o que é feito por Cristo durará. Como brasas tiradas do fogo, nosso propósito na Terra é promover os interesses de Cristo.

SER SÓBRIO (v. 7)

SER SÓBRIO (v. 7)

       Sobriedade nos é ordenada primeiro. Ele diz: portanto sede sóbrios” (Veja o capítulo 1:13.) Isso não significa que devemos andar com um semblante triste, mas perceber que com as questões finais e eternas diante de nós, e apenas um pouco de tempo restando para vivermos para o Senhor, o tempo que nos é dado não deve ser desperdiçado nas frivolidades do mundo. Envolver-se em tais coisas quando estamos prestes a entrar na eternidade, é não ser sóbrio. Precisamos lembrar que tudo o que é material neste mundo será queimado um dia (2 Pe 3:7), e somente o que é feito por Cristo durará. Como brasas tiradas do fogo, nosso propósito na Terra é promover os interesses de Cristo.

Coisas que Deveríamos Estar Fazendo no Tempo que nos Resta

Coisas que Deveríamos Estar Fazendo no Tempo que nos Resta

          Vs. 7-11 – Pedro então fala do presente efeito que isso deveria ter sobre nós. O fato de que Cristo está “preparado para julgar” (v. 5), deixa claro que já está próximo o fim de todas as coisas” (Veja Tiago 5:9). Se há algum atraso, é porque Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos venham ao arrependimento (2 Pe 3:9). Por esta razão, Ele tem prolongado o dia da graça. Assim como Deus atrasou o juízo de cair no tempo de Noé “ainda sete dias” (Gn 7:4), Ele está retendo o juízo hoje para dar aos homens a oportunidade de serem salvos nesta “undécima hora”.

Em vista do fato de que o fim de todas as coisas está próximo, Pedro prossegue com várias breves exortações que descrevem o que todo Cristão deveria estar fazendo com o tempo que lhe resta.

O Juízo dos Vivos e dos Mortos

O Juízo dos Vivos e dos Mortos

         Vs. 5-6 – Pedro nos assegura que todos (judeus ou gentios) que seguem uma vida ímpia um dia “hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos (At 10:42; Rm 14:12). O julgamento dos vivos e dos mortos são duas coisas distintas envolvendo todos os que são ímpios na raça humana. Esses dois julgamentos serão executados em dois momentos diferentes no futuro. O apóstolo Paulo indica que o julgamento dos vivos começa “na Sua Aparição” (2 Tm 4:1 – JND), quando “Se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Ts 1:7-8). Ele incluirá o juízo da sega [colheita] (Ap 14:14-16; Mt 13:37-42, 24:36-41), o juízo da vindima (Ap 14:17-20; Is 63:1-6), e o julgamento em sessão  – antes de o reino milenar de Cristo ser estabelecido (Mt 25:31-46) e durante seu curso (Sl 101:8; Sf 3:5). Nesse mesmo versículo (2 Tm 4:1), Paulo também indica que o julgamento dos mortos ocorrerá em “Seu reino”, sem ser específico em relação a quando em Seu reino. O apóstolo João nos dá o tempo exato; é no final do reinado de 1.000 anos do reino de Cristo, no “grande trono branco” (Ap 20:11-15; Is 24:22).
Pedro segue explicando que a base de todo o julgamento é o testemunho que Deus deu aos homens; isso os torna responsáveis. Ele diz: “Para este fim também as boas novas foram pregadas aos mortos [àqueles que estão mortos – KJV], para que sejam julgados, quanto ao homem, segundo a carne, mas vivos, quanto a Deus, segundo o Espírito” (v. 6 – JND).
Alguns receberam mais luz (verdade) do que outros, e são, portanto, mais responsáveis, mas todos os homens tiveram alguma luz de Deus e, portanto, são “inescusáveis” (Rm 1:20).
O “evangelho” de que Pedro fala aqui não é o evangelho da graça de Deus que é pregado nesta era Cristã, que anuncia a obra consumada de Cristo na cruz e a salvação pela fé n’Ele (At 20:24). São as boas novas que foram proclamadas aos homens em eras passadas pelos servos do Senhor, como Noé (2 Pe 2:5). “Aqueles que estão mortos” (KJV) são os que viveram naqueles tempos. Eles estão mortos agora, mas não estavam mortos quando o evangelho lhes foi pregado (cap. 3:19-20). Um testemunho suficiente de Deus lhes foi dado, mas, infelizmente, eles o rejeitaram. Eles, portanto, estarão diante de Deus para receber sua justa punição naquele dia vindouro (Ap 20:11-15).
Sempre houve de alguma forma um testemunho do evangelho de Deus para o homem. Isso separou a raça humana em duas grandes classes: aqueles que o recusam e provam sua falta de fé vivendo segundo os homens na carne” e aqueles que o creem e provam sua fé vivendo segundo Deus em espírito”.
strar que aqueles que são batizados para Cristo são colocados diretamente sob a autoridade e o controle de Cristo nas alturas. O crente batizado, portanto, deve viver no bem que o seu batismo significa e cortar suas ligações com o mundo praticamente, com o qual ele uma vez esteve associado. Isso envolveria dar um adeus formal à antiga posição judaica sobre a qual ele estava como judeu no judaísmo, e que estava sob julgamento iminente.

O Tempo que nos Resta

O Tempo que nos Resta

            Vs. 3-4 – Em seus dias de não convertidos, esses judeus não viveram de maneira diferente dos gentios, no que diz respeito à gratificação dos desejos naturais da carne. Pedro diz: Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias; E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução [corrupção – JND], blasfemando [falando mal – JND] de vós”. Como israelitas, eles estavam em um relacionamento de aliança exterior com Deus, o que exigia que vivessem uma vida santa (cap. 1:16). Mas eles desconsideraram aquele compromisso da aliança e viveram “no tempo passado” de acordo com a ausência de santidade que caracterizava “os gentios” – e isso desonrava a Deus (Rm 2:17-24). Assim, na religião dos judeus, eles tinham estado cerimonialmente “perto” de Deus, mas, infelizmente, estavam moralmente “longe” d’Ele (Ef 2:17; Mt 15:8).
Esses judeus procuravam conquistar o favor de seus vizinhos gentios pagãos, em cujas terras moravam, participando de seus costumes corruptos. Mas o chamado de Deus mudou tudo. Eles foram salvos pela graça de Deus e começaram a marchar num ritmo diferente. Os gentios entre os quais viviam não entendiam por que eles haviam se desviado tão repentina e completamente do estilo de vida corrupto que haviam seguido. Não tendo conhecimento de Deus, nem dos desejos santos da nova natureza, seus velhos amigos deduziram que eles estavam agindo por algum motivo maligno e, consequentemente, “falaram mal” (TB) contra eles. Da mesma forma, todos os que se convertem a Cristo devem estar preparados para tratamento semelhante vindo de seus companheiros não salvos. Quando eles param com as coisas pecaminosas que outrora seguiram e começam a seguir a Cristo, há considerável repercussão do mundo; isso levará a críticas e ao falar mal do crente.
Aprendemos nos versículos 2-3 que cada Cristão tem duas partes em sua vida na Terra. São elas: 
  • “O tempo passado” (v. 3).
  • “O tempo que resta” (v. 2). 


Todo crente verdadeiramente convertido admitirá prontamente que a sua vida anterior à sua conversão não passava de vontade própria, prazer próprio e busca da vaidade, e que tudo isso é tempo perdido. Não podemos fazer nada sobre o tempo passado em nossa vida; são “águas passadas” que não podemos recuperar. Mas podemos fazer algo sobre o tempo que nos resta! Todo Cristão vivo está na linha divisória entre essas duas partes de sua vida, com uma escolha sobre o que vai fazer com a parte de sua vida que resta. Uma pergunta que podemos nos fazer é: “O que eu vou fazer com o tempo que me resta?” Em 2 Coríntios 5:15, o apóstolo Paulo diz que há somente duas maneiras nas quais os Cristãos podem viver suas vidas. Elas podem ser vividas “para si” (para seus próprios interesses), ou podem ser vividas “para aqu’Ele” (para promover os interesses de Cristo). Ele também diz que o amor de Cristo nos constrange a entregar o tempo que nos resta aos Seus interesses, e assim causar um impacto neste mundo por Ele. Como ninguém sabe quanto tempo tem para viver, ninguém sabe quanto será o tempo que lhe resta. Assim sendo, precisamos orar a oração de Moisés: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios” (Sl 90:12).

Fazendo a Vontade de Deus

Fazendo a Vontade de Deus

         “A vontade de Deus” deve ser a fonte da vida moral de todo Cristão. Fazer Sua vontade deve ser um compromisso dentro de nossos corações e mentes. O Senhor é nosso grande Exemplo aqui. Ele disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:7). Ele também disse: Porque Eu desci do céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade daqu’Ele que Me enviou” (Jo 6:38). Mas fazer a vontade de Deus custou muito ao Senhor. Em relação ao cálice do juízo, que desejou que passasse d’Ele para não o beber, Ele submeteu Sua vontade a Deus, e disse: “todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres” (Mt 26:39). Ele tomou o cálice da mão do Pai e em perfeita obediência foi até a cruz e o bebeu (Jo 18:11) – e somos gratos por Ele ter feito isso, pois se não o tivesse feito, Deus não poderia nos salvar!
Para nós, o sofrimento “na carne” envolve a recusa das concupiscências e seduções do pecado, e isso resulta no deixar de pecar. Se gratificarmos a carne, não sofremos, mas pecamos, e isso desagrada ao Senhor e nos dá uma má consciência. Portanto, esse tipo de sofrimento é diferente dos sofrimentos até agora tratados na epístola. Sofrer por causa da consciência (cap. 2:19) e sofrer por causa da justiça (cap. 3:14), são sofrimentos que vêm sobre nós pela hostilidade de pessoas más e ofensivas – mas aqui o sofrimento é auto infligido, por assim dizer. Escolhemos fazer a vontade de Deus e isso envolve recusar os desejos pecaminosos da carne; como resultado, sofremos. Isso não deve significar que o sofrimento na carne é um estilo de vida monástico, no qual não há alegrias. Pelo contrário, andar no caminho de fé no serviço do Senhor (no qual enfrentamos o sofrimento de fora e dentro) é a vida mais feliz que uma pessoa pode ter. Isso pode parecer contraditório, mas é um fato.

O versículo 2 mostra que Deus tem uma razão muito boa para que deixemos de pecar – é para que possamos ser usados ​​no serviço do Mestre. O sofrimento na carne nos deixa livres para fazermos a vontade de Deus. Assim, o Cristão deve gastar “o tempo que nos resta”, não mais perseguindo prazeres pecaminosos que são apenas por um tempo (Hb 11:25), mas fazendo “a vontade de Deus”.

SOFRENDO NA CARNE Capítulo 4:1-11

SOFRENDO NA CARNE Capítulo 4:1-11

Vs. 1-2 – Pedro prossegue com outro aspecto dos sofrimentos dos santos – sofrendo na carne. Ele diz: “ORA, pois, já que Cristo padeceu por nós na (em [a] – JND) carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na (em [a] – JND) carne já cessou do [terminou com o – JND] pecado; para que, no tempo que vos resta na (em [a] – JND) carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus”. Como já observamos, no curso desta epístola, Pedro traz os sofrimentos de Cristo como um modelo ou como motivação para encorajar os santos a viver uma vida piedosa. Neste quarto capítulo, Seus sofrimentos são colocados diante de nós como modelo. Esta passagem não poderia estar se referindo aos sofrimentos expiatórios de Cristo (como no capítulo 3:18), porque somos exortados a imitá-Lo, e nunca nos seria pedido para imitá-lo e fazermos expiação – somente Ele poderia realizar essa grande obra.
O argumento de Pedro aqui é que, uma vez que Cristo “padeceu” ao fazer a vontade de Deus, devemos estar preparados para fazê-la também. Precisamos ter “este mesmo pensamento” que Ele tinha. Quanto ao Seu pensamento, Ele preferia sofrer a pecar; Ele preferia morrer a desobedecer. Mas no que diz respeito à Sua santa constituição, Ele não podia pecar, porque Ele não tinha a natureza pecaminosa caída (a carne). Portanto, nunca houve n’Ele uma luta para pecar ou não. A tradução de J. N. Darby coloca o artigo “a” antes de “carne” entre colchetes, indicando que a palavra não está no texto grego. Por isso, Cristo sofreu em carne, mas não na carne – isto é, na natureza pecaminosa caída.

Esta passagem não ensina que o Senhor tinha desejos pecaminosos, mas Ele os venceu. Um doutrina que ensine isso é blasfema. Para uma pessoa pecar, ela deve ter uma natureza pecaminosa. A natureza pecaminosa é a árvore má que produz seus frutos na forma de más ações – pecados. Mas essa árvore má não estava no Senhor. Ele não tinha uma natureza pecaminosa; Ele tinha uma natureza humana santa que não podia pecar (Lc 1:35; Jo 14:30).

Salvo Pela Água – Uma Figura do Batismo

Salvo Pela Água – Uma Figura do Batismo

         Vs. 21-22 – Noé e sua família se “salvaram pela água” (v. 20b). Este fato estabelece uma figura do que o batismo faz pelos crentes judeus. Pedro diz: Que também, como uma verdadeira figura, agora nos (KJV) salva, batismo, (não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus), pela ressurreição de Jesus Cristo; O Qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu: havendo-se-Lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”. O dilúvio tirou Noé e sua família do mundo, que transbordou com água. Aquelas águas “salvaram” a família de Noé removendo-os do mundo antigo e colocando-os em um novo mundo que estava além do juízo do dilúvio. Assim, as próprias águas que salvaram a família de Noé foram aquelas que levaram os incrédulos! O que foi uma bênção para um, foi o juízo para o outro. Da mesma forma, a ordenança do batismo dissocia uma pessoa simbolicamente de sua antiga vida no mundo e a associa a uma nova posição na Terra, onde ela vive com Cristo “em novidade de vida” (Rm 6:3-5; Gl 3:27). Portanto, era imperativo que os crentes judeus fossem batizados; isto os dissociou da nação culpada que crucificou a Cristo e formalmente os identificou com a nova posição Cristã de privilégio na Terra (At 2:38). “Nos salva” neste versículo 21 refere-se aos crentes judeus.
Ao dizer, em um parêntese: não do despojamento da imundícia da carne”, Pedro esclareceu que não estava se referindo aos “batismos” do Velho Testamento de lavagens cerimoniais a que os sacerdotes eram submetidos para purificarem seus corpos em preparação para seu serviço no santuário (Hb 6:2). Ele estava se referindo ao batismo Cristão, que significa nossa identificação com a morte de Cristo, que é a indagação de uma boa consciência para com Deus”. L. M. Grant explicou o seguinte: “Ele expressou um desejo ou demanda de uma boa consciência; ele mesmo não dá uma boa consciência, mas desde que o batismo é para Cristo, aponta para Ele, que dá uma boa consciência. Isto é sugerido na última frase do versículo 21 – pela ressurreição de Jesus Cristo’. O batismo não teria sentido se Cristo não tivesse ressuscitado dentre mortos” (Comments on the Books of First and Second Peter, pág. 33). Assim, o batismo salva os judeus crentes (externamente) do julgamento governamental de Deus que estava sobre a nação (Sl 69:22-27; At 2:40). Noé saiu do dilúvio para começar uma nova vida em um novo mundo; isto nos fala da nova posição na Terra na qual o batismo nos coloca, onde somos identificados com Cristo em ressurreição.

Pedro não para na ressurreição de Cristo, mas continua falando de Sua ascensão também. Ele diz: “O Qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu: havendo-se-Lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências” (v. 21). Ele menciona isso para mostrar que aqueles que são batizados para Cristo são colocados diretamente sob a autoridade e o controle de Cristo nas alturas. O crente batizado, portanto, deve viver no bem que o seu batismo significa e cortar suas ligações com o mundo praticamente, com o qual ele uma vez esteve associado. Isso envolveria dar um adeus formal à antiga posição judaica sobre a qual ele estava como judeu no judaísmo, e que estava sob julgamento iminente.

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