MINISTRAR A
PALAVRA (vs. 10-11)
Pedro então aborda o
assunto de ministrar a Palavra entre os santos. Esta é outra coisa importante
que deveríamos estar fazendo com o tempo que nos resta na Terra. Ele diz: “cada um de vós, segundo o dom
que recebeu, comunicando-o [ministrando-o – JND] uns aos outros, como bons
despenseiros das várias graças de Deus. Se alguém fala, fale como oráculos de
Deus; se alguém ministra, ministre como da força [habilidade – JND] que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a
Quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (TB). A expressão “cada um” indica que a cada Cristão foi
dado um dom espiritual para exercer (Mt 25:15; 1 Co 12:7; Ef 4:7) e, portanto,
todos temos algo a fazer para Deus em Seu reino (Mc 13:34). Não há zangões na
colmeia de Deus! Os tipos de dons que Pedro está focando aqui são aqueles que
têm a ver com ministrar a Palavra – seja na pregação, ou ensino, ou na
exortação prática (Rm 12:6-8a).
Pedro distingue “dom” e “habilidade”. A habilidade tem a ver com os poderes naturais de intelecto e personalidade de
uma pessoa que são formados nela desde o nascimento; ao passo que um dom, no
sentido em que é usado na Escritura, é algo espiritual
dado a uma pessoa quando ela crê no evangelho e recebe o Espírito Santo.
Aprendemos de Mateus 25:15 que quando o Senhor dá a um crente um dom
espiritual, ele corresponde à capacidade natural da pessoa. O homem deu “talentos” aos seus servos (que
correspondem a esses dons espirituais) “a
cada um segundo a sua própria capacidade” (ARA). Vemos a sabedoria de Deus
nisso. O Senhor não dá a uma pessoa um dom espiritual e o chama para um
trabalho específico sem que essa pessoa tenha alguma habilidade natural para
isso. Sua habilidade natural complementará seu dom espiritual “como uma mão se
encaixa em uma luva”. Por exemplo, para uma pessoa com uma personalidade
extrovertida poderia ser dado receber o dom de um evangelista, porque esse dom
requer que a pessoa seja capaz de alcançar as pessoas e falar-lhes livremente,
o que seria difícil para uma pessoa naturalmente reservada. Ou, uma pessoa com
poderes intelectuais naturalmente aguçados poderia receber o dom de ensinar, o
que requer uma mente organizada.
Comentando Mateus 25:15, W.
Kelly disse: “Há duas coisas no servo – ambas de importância: Ele lhes deu
dons, mas foi de acordo com suas várias habilidades. O Senhor não chama alguém
para um serviço especial, sem que tenha a habilidade para a responsabilidade
que lhe foi confiada. O servo deve ter certas qualificações naturais e
adquiridas, além do poder do Espírito de Deus... É claro que há certas
qualidades no servo, independentemente do dom que o Senhor coloca nele. Seus
poderes naturais são o vaso que contém o dom e onde o dom deve ser exercido”. Lectures on the Gospel of Matthew,
pág. 472).
Nota: não há uma sugestão
aqui, nem em qualquer outro lugar na Escritura, de uma pessoa que tenha um dom
para ministrar a Palavra, sendo treinada e ordenada em um seminário antes de
exercer seu dom. A Bíblia ensina que se uma pessoa tem certo dom, a posse dele
em si é a garantia de Deus para usá-lo. Pedro ensina isso nos versículos 10-11.
Ele diz: “Cada um administre aos outros o dom
como o recebeu” (v. 10). Ele não diz: “Cada um administre aos
outros o dom como o recebeu e seja treinado e
ordenado por um seminário, e então ministre”. E novamente, ele diz: “se alguém administrar, administre
segundo o poder [habilidade] que Deus dá” (v. 11). Ele não diz: “Deixe-o ir à escola obter um
certificado, e depois deixe-o falar na assembleia”. O apóstolo Paulo confirma
isso: “De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se
é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja em
ministrar; se é ensinar haja dedicação
ao ensino; Ou o que exorta, use esse
dom em exortar” (Rm 12:6-8). Veja também 1 Coríntios 14:26. O que é requerido em ministrar a Palavra é
falar “segundo as palavras de Deus”. Isto é ministrar com um senso consciente de que estamos
falando em nome de Deus, como Seus porta-vozes e, portanto, isso deve ser feito
com precisão e reverência para representá-Lo apropriadamente.
Uma ideia equivocada em
relação a dons que é comum na Cristandade hoje em dia é a ideia de que a
capacidade natural de uma pessoa é o seu dom espiritual. Pessoas com talentos
naturais (nos esportes, ou música, etc.) são encorajadas a perseguir essas
coisas e a fazer delas sua carreira na vida, porque é seu dom, com que devem
glorificar a Deus. Os chamados “cultos de adoração” são organizados para demonstrar o desempenho desses talentos
naturais. No entanto, isso tende a promover a glória humana e a busca do louvor
aos homens, em vez de trazer glória e louvor a Deus. Muitas vezes, os chamados
“cultos da igreja” são reduzidos a não muito mais que um show de talentos. Tal
atividade faz da Igreja uma instituição mundana. Na Escritura, os dons
espirituais são para promover as coisas espirituais que ajudam os santos na “santíssima fé” (Judas 20). J. N. Darby
disse: “É inteiramente falso o princípio que dons naturais são uma razão para
usá-los. Posso ter surpreendente força ou velocidade para correr; com uma eu
derrubo um homem e com a outra eu ganho um prêmio. Música pode ser a coisa mais
refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu creio ser da mais alta
importância. Os Cristãos perderam sua influência moral admitindo a natureza e o
mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse você
não pode misturar carne e Espírito” (Letters,
vol. 3, pág. 476).