UMA HERANÇA
CELESTIAL (vs. 4-5)
Pedro passa a falar da
porção Cristã da bênção que nos foi assegurada pela morte e ressurreição de
Cristo. Ele se refere a ela como nossa “herança”.
Ele diz que é “uma herança incorruptível,
incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós, Que
mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes
para se revelar no último tempo”. Estas coisas, como as anteriores, são algo completamente
diferente daquilo que esses crentes judeus tinham conhecido sob o antigo pacto.
Estando na Igreja de Deus,
esses santos eram agora parte de uma companhia especial de pessoas abençoadas
na família de Deus, distinta do resto de Seus filhos, como sendo a “assembleia
dos primogênitos” (Hb 12:23 – Tradução W. Kelly). (“Primogênitos” indica que eles têm preeminência tanto em sua posição quanto em seus privilégios sobre todas as outras
pessoas abençoadas.) Favorecidos como tais, os Cristãos têm um lugar especial
diante de Deus como Seus “filhos”
(Rm 8:14-15, Gl 3:26, 4:5-7, Ef 1:5), tendo suas próprias bênçãos especiais (Ef
1:3). Pedro se refere a essas bênçãos como nossa “herança” celestial. Isso
contrasta com a porção de Israel na terra de Canaã, que era uma herança terrena.
Há,
de fato, dois aspectos da herança Cristã no Novo Testamento:
- A herança são coisas materiais desta criação (Ef 1:11, 14,
18; Cl 3:24).
- A herança são coisas espirituais que os crentes possuem em Cristo (At 20:32, 26:18; Cl 1:12; 1 Pe 1:4).
Vista a herança como coisas materiais, Cristo é o “Herdeiro” de tudo o que foi criado nos
céus e na Terra (Hb 1:2). É “Sua
herança” (Ef 1:18) e também é “nossa
herança” (Ef 1:14), porque “somos logo herdeiros também,
herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8:17). De acordo com isso, Paulo disse: “porque tudo é vosso” (1 Co 3:21). Esta herança material é algo que
é nosso agora, no que diz respeito ao
título e direito a ela (Ef 1:11 – “obtivemos
uma herança” – JND). Ela foi “adquirida
[comprada – KJV]” (Ef 1:14 – TB) para nós por Cristo pela
obra na cruz ( “para que, pela graça de Deus,
provasse a morte por todas as coisas” – Hb 2:9 – JND), mas ela espera “redenção” (Ef 1:14). A redenção da herança tem a ver com o fato de
Cristo a libertando (o significado da redenção) do pecado, de Satanás e do
mundo, de modo que possa ser usada para a demonstração de Sua glória no mundo
vindouro (o Milênio). Isso ocorrerá na Aparição de Cristo por meio de seus julgamentos
marciais.
Vista como coisas espirituais, a herança tem a ver com o
que os crentes possuem espiritualmente em Cristo – nossas “bênçãos espirituais” (Ef 1:3; Cl 2:3). A Tradução J. N. Darby
chama esse lado da herança de “a porção”
em Atos 26:18 e Colossenses 1:12, para distingui-la do aspecto material. Ele
disse: “A herança é a herança de todas as coisas que Cristo criou. Mas em 1
Pedro, ou em Colossenses 1, ela está no céu” (Notes and Jottings, pág. 101). Há uma diferença entre Colossenses
1:12 e 1 Pedro 1:4; Colossenses refere-se à nossa participação atual na herança, enquanto 1 Pedro
refere-se a uma futura participação
nela quando estivermos com Cristo em nosso apropriado estado glorificado.
Assim, em Colossenses, os santos são vistos como possuidores de sua porção em
Cristo, mas em 1 Pedro eles estão em uma jornada em direção a ela.
Há abundância de contrastes
quando se compara a herança terrena
de Israel com a nossa herança celestial.
A herança de Israel poderia ser, e foi, perdida pelo fracasso – mas a nossa não
pode ser! Eles corromperam e macularam sua herança enchendo a terra com bosques
(postes-ídolo) e altares em que praticavam a idolatria. Como consequência, Deus permitiu que seus inimigos os conquistassem e os
levassem para longe de sua herança. Assim, ela escapou de seu alcance. Em
contraste com isso, a herança espiritual que os Cristãos têm é “incorruptível, incontaminável, e que se
não pode murchar” e, portanto, não pode ser
arruinada por qualquer falha nossa. Ela está “guardada nos céus” e está segura por
conta da fidelidade de Deus em guardá-la por nós. A preservação da herança de
Israel dependia de seu desempenho, e foi aí que tudo deu terrivelmente errado.
Eles falharam em sua responsabilidade e, consequentemente, perderam sua
herança. Como nossa herança não depende de nossa fidelidade, mas foi assegurada
para nós em Cristo ressuscitado, ela não pode ser perdida.
Pedro acrescenta que,
enquanto nossa herança está guardada no céu para nós (v. 4), somos “guardados
pelo poder de Deus” na Terra, a fim de tomarmos posse daquelas coisas em nosso estado
glorificado (v. 5 – ARC). Assim, tudo está eternamente seguro! Ele diz que
somos guardados “para a salvação”, e isso é
algo que está “já prestes para se revelar no
último tempo”. Para entender isso corretamente, precisamos ver que há três tempos verbais para a salvação na
Escritura. O Cristão foi salvo da pena de seus pecados ao receber a Cristo como seu Salvador (At
16:31; Ef 2:8); ele está sendo salvo diariamente dos perigos interiores e exteriores
(Rm 5:10; 1 Tm 4:10; Hb 7:25); e ele será salvo no momento do Arrebatamento
quando seu corpo for glorificado (Hb 9:28). Por isso, é igualmente verdade
dizer que fomos salvos e estamos sendo salvos e seremos salvos. O aspecto da salvação de
que Pedro está falando aqui está no tempo verbal futuro. Ela ocorrerá no
Arrebatamento, mas não será “revelada”
diante do mundo até a “revelação de Jesus
Cristo”, que é a
Sua Aparição (v. 13).
Também é importante notar
que Pedro frequentemente fala da vinda do Senhor sem distinguir entre o
Arrebatamento e a Aparição. Este é o caso no versículo 5. Sabemos de outras
passagens da Escritura que a glorificação de nossos corpos ocorrerá no
Arrebatamento (1 Co 15:51-55; Fp 3:21), mas não será “revelada”
diante do mundo até a Aparição de Cristo, quando Ele
virá para ser glorificado em Seus santos (2 Ts 1:10). O fato de que esta
salvação está “já prestes” de ser
revelada, torna essas coisas iminentes (Rm 13:11).